Gisèle Maria Coelho de Almeida Goulart
Biografia da mãe, por um de seus filhos
Nasceu a 21 de dezembro de 1913, em Paris, França. Registrada como cidadã brasileira naquela cidade, sempre fez questão absoluta de frisar que, embora fosse natural da França, era de nacionalidade brasileira. Disso tinha muito orgulho, assim como de ser descendente de povoadores do Rio de Janeiro (ramo Barcellos), dos quais vieram a originar-se seus pais – famílias Ribeiro de Castro e Coelho de Almeida.
Aos três meses de idade, viu-se privada do convívio de seu pai, Bento Coelho de Almeida, falecido em Paris. Com oito meses, desembarcou no Rio de Janeiro com sua mãe, Ernestina Coelho de Almeida, e suas cinco irmãs: Erine, Ernestina, Emerita, Maria Isabel e Angelia. Aos 3 anos, em 1917, perde sua mãe, vítima da gripe espanhola. Passa, então, a viver em Petrópolis-RJ, sendo educada pelas irmãs mais velhas e por seus tios Ribeiro de Castro e Coelho de Almeida.
Assim, em Petrópolis iniciam-se seus estudos escolares, no Colégio Sion. Ali recebe sólida instrução na lingua francesa, da qual por toda a vida conservou a fluência. A família era estreitamente ligada às letras: era seu tio Alberto de Faria, maridos das primas velhas Afrânio Peixoto e Alceu Amoroso Lima, e amigo de infância, seu primo mais jovem Otávio de Faria, filho de Alberto. Terminados os primeiros anos de escola, regressou ao Rio de Janeiro, continuando os estudos no mesmo Sion, desta vez do bairro de Laranjeiras. Ali concluiu sua vida escolar.
Em 1935, aos 22 anos, casou-se com Mario Duvivier Goulart [1907-1995], médico diplomado pela Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, filho de Arlindo de Moraes Goulart e Laura Duvivier. O casal teve dois filhos, Carlos, nascido em 1937, e Jorge, em 1941. Morando no Jardim Botânico desde 1941, e sendo católica, dedicou-se à catequese no Patronato Operário da Gávea, enquanto empenhava-se em educar seus dois “endiabrados” filhos…
Nos anos 50, iniciou-se na encadernação, chegando a encadernar livros escritos por seu primo e amigo de infância, Otavio de Faria. Na mesma época, aprendeu a trabalhar com cerâmica, e isto se tornou sua maior paixão. Não foram raras as vezes em que acordou de madrugada para moldar em argila uma de suas obras, batizada pela família de “As Almas”, fruto da forte comoção que lhe causavam as execuções da revolução cubana no “paredón”.
Após a revolução brasileira de 1964, já premiada com medalha de bronze e menções honrosas em exposições, foi aconselhada a afastar-se do mundo das artes, para que não fosse confundida com os muitos artistas de pensamento esquerdista que então havia. A muito custo, e com grande desgosto, seguiu os conselhos e rendeu-se ao sofrido afastamento.
Passaram-se os anos, os filhos cresceram e diplomaram-se: Carlos em Geografia e Jorge em Medicina. Em 1995, ficou viúva, depois de 59 anos de convívio e apoio mútuo. Aos 82 anos, enfrenta a solidão voltando à paixão antiga: a cerâmica. Produziu ainda inúmeras obras, que, mesmo com base em técnicas modernas e distintas da antiga prática, traziam os mesmos traço e movimento de trinta anos antes…
Ainda participou de exposições, produzindo delicados trabalhos, até que, em janeiro de 2008, na mesma casa construída com Mario no princípio dos anos 40, Gisele faleceu. Sua genealogia viva estava então representada nas duas netas filhas de Jorge, Cláudia e Sylvia, já diplomadas, respectivamente, em Administração e Engenharia. Gisèle não conheceu outros dois netos, Miguel e Gustavo, frutos da segunda união de seu filho Jorge.
Dedicada desde sempre às artes e à cultura de modo geral, Giséle ajudou a fundar, em 1950, o Colégio Brasileiro de Genealogia, o que sempre foi motivo de grande satisfação para ela e, hoje, de orgulho para seus descendentes.
Jorge Coelho de Almeida Goulart